sábado, 14 de fevereiro de 2009

Separações (I)

É comum haver pessoas que se sentem com o direito de buscar a felicidade, principalmente quando incapazes de enfrentar as pressões de uma vida comum em que o companheirismo, o respeito e a dignidade não estão mais presentes. Não é necessário que existam brigas e discussões para que isto seja uma realidade. Muitas vezes o silêncio, o calar perante situações de revolta ou mal-estar pode ser um perigoso inimigo do casal. As dores acumuladas um dia explodem como um vulcão, em proporções que não permitem novas oportunidades.

De qualquer forma, aquele que ficar amargurado, ou o que ficar mais amargurado, nutre intimamente desejos de vingança. É um tipo de reação, de certa forma, normal, mas que não ajuda a curar as próprias feridas. O ego está esfacelado. Os sonhos de manter uma família desaparecem, e o que sobra é uma vontade incontrolável de destruir o outro, que, como todo sentimento de rancor, levará, provavelmente, a mais sofrimentos e dores. Nesta situação, tentar estabelecer uma relação de amizade fica impossível.

Surge a fase de procura por amigos, na tentativa de encontrar ajuda ou simples apoio. Não raro, muito rapidamente, sobrevêm crises de depressão, em níveis mais ou menos intensos, mas que, independente destes, exigirá tratamento, por vezes longo. Aparece o desinteresse pelo trabalho e pela casa, quando não pelos próprios filhos. Os efeitos da mágoa e preocupações geram resultados desastrosos, pois mais que aproximar, afasta as pessoas, devido á não aceitação de outro tipo de raciocínio que não seja o de dar o troco.

Enquanto este quadro não for superado, e isto significa convencer-se da inutilidade de suas reações, aceitando uma realidade indesejada, a pessoa será um veículo de ódio, cheia de auto-recriminação e, por mais incrível que pareça, de remorso, por parte do que faz e diz. Sim, porque ela se agride quando externa suas juras de vingança, sem se ajudar a entender que amor é algo que exige duas pessoas. Ninguém ama só. Quando não há retribuição, o amor passa a ser sofrimento e autopunição. Atinge níveis patológicos, vez que não são lágrimas ou agressões que trazem ninguém de volta.

Com ou sem uma ajuda exterior, é preciso reconquistar o amor próprio. O desespero prolongado mina a saúde mental e física. De tudo o que aparece pela frente, a maior verdade é similar à que nos chega à mente quando alguém querido morre: a vida continua! Não temos que questionar porque não nos deram valor. Nada adianta discutir ou reavaliar possíveis qualidades nossas que foram desprezadas. Não temos que nos comparar com outra mulher ou com outro homem, que, às vezes, já assumiu nosso lugar. É preciso aceitar a verdade. E a verdade está na realidade dos fatos.

É fundamental entender que,quando uma união se rompe, não há um culpado. Ambos terão falhado. Por excesso ou por omissão, por exagero ou por esconder sentimentos, por exasperar-se ou por manter-se acanhado, por intolerância ou por tolerar em demasia, mas, consciente ou inconscientemente, ambos são responsáveis. E, na maioria das vezes, a dor se baseia no fato de percebermos a culpa que nos cabe. Então, a figura de vítima inocente não é aceitável totalmente. Mais simples, e um caminho mais curto para a cura, será amainar a fúria e sarar feridas, admitindo que não somos donos de ninguém, e que não temos como controlar sentimentos,além dos nossos.

O mais provável é que estas insuportáveis dores, causadas pelo afastamento, tenham origem em ressentimentos acumulados ao longo de uma vida. Provocam rugas, amargura e suspeitas. Mas, mais que aos outros, ferem a quem as alimenta. Não vivemos em um mundo de perfeição, de plena justiça, de belo entendimento. Ainda assim, o mais sadio é perdoar, tentar entender, e, com o passar do tempo, recuperar a auto-estima e a alegria de viver. E tentar ter a certeza de - enquanto durou a união - ter feito o melhor e tudo que lhe foi possível, para mantê-la. Porque, como se disse antes, a vida continua!

Nenhum comentário:

Postar um comentário